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Por Stephan Wassong

Presidente do Comitê Internacional Pierre de Coubertin

Pierre de Coubertin apresentou pela primeira vez em público sua ideia de reviver os Jogos Olímpicos modernos no 5º aniversário da União das Sociedades Esportivas e Atlética Francesa (USFSA) em novembro de 1892. Ao final do seu discurso de encerramento, no dia 25 de novembro, ele disse:

“Quanto ao atletismo em geral, não sei qual será seu destino, porém desejo chamar sua atenção para o fato importante de que atualmente ele apresenta duas novas características […]. É democrático e internacional. A primeira dessas características garantirá seu futuro: qualquer coisa que não seja democrática na atualidade já não é viável por mais tempo. E pela segunda, abre para nós perspectivas inesperadas. […] Que nos seja permitido exportar remadores, corredores e esgrimistas; estes é o livre comércio do futuro, e o dia em que introduzir entre as paredes da velha Europa a causa da paz terá recebido um impulso novo e poderoso. Isto é suficiente para animar a este vosso servidor para que sonhe agora sobre a segunda parte desse programa; ele espera que vocês o ajudem como o tem ajudado até agora, e que com vocês ele será capaz de continuar e completar, sobre uma base adequada às condições da vida moderna, esta tarefa saudável e grandiosa, a restauração dos Jogos Olímpicos”.

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O público ficou surpreso com a apresentação dessa ideia ambiciosa e reagiu de forma moderada. Alguns imaginaram que Coubertin havia desenvolvido a ideia de uma forma mais ou menos espontânea. Mas isso foi erroneamente percebido pois Coubertin havia mencionada esta ideia anteriormente para Andrew D. White, o presidente fundador da Universidade Cornell nos Estados Unidos da América em uma carta datada de 23 de julho de 1892. Antes mesmo disso, entre 1888/89, Coubertin mencionou sua ideia de planejar uma organização de esporte para todas as nações para William Milligan Sloane, professor na Universidade de Princeton no Estados Unidos e também para Hippolyte Adolphe Taine, historiador e filósofo francês.

Apesar da indiferente reação do público em novembro de 1892, Coubertin não desistiu de sua ideia Olímpica. Com o apoio de Sloane e de Charles Herbert, à época secretário geral da Associação Atlética Amadora da Inglaterra, ele organizou o Congrès International de Paris Pour Le Rétablissement des Jeux Olympiques (Congresso Internacional de Paris para o Restabelecimento dos Jogos Olímpicos). O Congresso Internacional aconteceu na Sorbonne em Paris entre os dias 16 e 24 de junho de 1894. A lista de participantes era composta de 58 franceses representantes de 24 organizações esportivas e 20 representantes de 20 associações/clubes esportivos estrangeiros espalhados em nove países. Nesse congresso, que pode ser listado como o 1º Congresso Olímpico, foi decidido reestabelecer os Jogos Olímpicos modernos, tendo sua primeira edição em Atenas 1896, e também criar o Comitê Olímpico Internacional (COI) apontando o letrado grego Dimítrios Vikélas como primeiro presidente do COI, ficando acordado um conjunto básico de regras amadoras.

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A ideia de reviver uma versão moderna dos Jogos Olímpicos foi estimulada pela apreciação cultural de Coubertin com os Jogos Olímpicos da Antiguidade, as escavações de Olímpia feita por arqueólogos alemães entre 1875 e 1881 e também por diversas iniciativas que aconteceram em diferentes locais em nível regional ou nacional, entre elas, na Grécia (Jogos Olímpicos de Evangelis Zappas) e Inglaterra (Jogos Olímpicos de Wenlock, organizados por William Penny Brookes). Nenhuma dessa iniciativas tiveram um caráter internacional e não sobreviveram a virada do século 19 para o 20. Entretanto, Coubertin não queria apenas fazer uma mera cópia dos Jogos Olímpicos da antiguidade, ele buscava cunhar um perfil muito moderno aos Jogos Olímpicos. Assim, o objetivo dele era fundar um festival atlético internacional onde a mola propulsora é o caráter educativo. Os Jogos Olímpicos deveriam promover os valores do esporte como uma ferramenta de educação. De fato, a ideia era o esporte contribuindo para a educação de cidadãos modernos. Participação em competições esportivas deveriam dar apoio ao desenvolvimento social e moral do mais alto nível que poderia ser transmitido para além do contexto esportivo, para as questões pessoais e profissionais da vida.

O apreço de Coubertin para com o processo educativo foi forjado pelos seus insights e análise do mundo esportivo Anglo-Americano em nível universitário e por trás disso. Nos anos 1880 e 1890 ele fez diversas viagens de estudo para a Inglaterra (por exemplo em 1883, 1886 e 1887) e para os Estados Unidos (em 1889 e 1893) para adquirir conhecimento na perspectiva educacional do esporte nas, entre elas, escolas e universidades públicas inglesas, nas universidades americanas, na Young Men’s Christian Association (Associação Cristã de Moços), clubes esportivos de classe trabalhadora e parques esportivos nos Estados Unidos. Coubertin publicou uma variedade de livros, artigos e relatórios em jornais sobre essas viagens de estudos.

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Sem dúvidas, o apreço pelo esporte como uma ferramenta educativa para o desenvolvimento do caráter foi um dos pilares centrais de pensamento de Coubertin. De igual importância era a sua crença no aprendizado intercultural. Ele ficou familiarizado com isso através do convívio com lideranças do crescente movimento de paz no final dos 1880s e começo dos 1890s. De acordo com Coubertin, os Jogos Olímpicos deveriam ser uma plataforma para unir atletas e espectadores de diferentes nações. Os Jogos Olímpicos forneceriam um caminho importante para criação e expansão de relações de amizade através do entendimento mútuo. Ele justificou a recriação dos Jogos Olímpicos para dar suporte ao entendimento transnacional porque esporte desfrutava de um interesse mundo a fora. Os Jogos Olímpicos, com suas regras e regulamentos obrigatórios, eram para facilitar a continuidade as atividades esportivas internacionais.

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Coubertin escreveu sobre o valor dos Jogos Olímpicos como um veículo para apoiar o desenvolvimento da paz entre nações no seu artigo “Os Jogos Olímpicos de 1896” que foi publicado em 1896 na revista americana The Century Illustrated Monthly Magazine:

“Deve a instituição (Jogos Olímpicos) prosperar, – como eu sou persuadido, todas as nações civilizadas auxiliando nisso, ele irá – eles talvez poderão ser um potente, indiretamente, fator em assegurar paz universal. Guerras iniciam por causa do desentendimento entre nações. Nós não teremos paz até o preconceito que agora separa as raças continuar a sobreviver. Para alcançar esse fim, qual outra melhor maneira do que trazer periodicamente jovens de todas as raças para amigáveis testes de força e agilidade?”

No contexto prevalecente pode-se concluir que Coubertin foi impulsionado por ambições nacionais para reviver os Jogos Olímpicos. Mas ele não pode ser retratado como um reformista nacionalista de mente pequena que sofria com a derrota de guerra da França para a Alemanha, culpando as pobres condições físicas da juventude francesa para a crise nacional. Também não pode ser dito que Coubertin simplesmente reviveu os Jogos Olímpicos para estabelecer um estímulo para juventude francesa regularmente engajar-se em esporte para questões somente de treinamento físico.

Texto original em inglês.

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